A pandemia, embora anunciada, mudou a vida das pessoas. De uma hora para outra o mundo virou de pernas para o ar e, sem muito ensaio, fomos apresentados a uma nova realidade.
Nas empresas, os desafios foram imensos e, em um espaço muito curto de tempo, a rotina de trabalho foi totalmente transformada: videoconferências sem fim, reuniões online, um número maior de chamadas telefônicas e trocas de mensagem consomem os nossos dias, tornando-os mais curtos e às vezes até improdutivos. Diariamente nos perguntamos se determinado projeto ou plano de trabalho continua a fazer sentido neste novo momento, e vamos ajustando tudo o que está à nossa volta a um mundo diferente do que imaginamos e planejamos anteriormente.
Tenho o privilégio de me relacionar com gestores de pessoas em empresas e pude perceber que rapidamente o stress de organizar a operação, dentro dessa pandemia, foi dando lugar a uma preocupação enorme com a saúde integral dos times e funcionários.
Trabalhando com promoção da saúde e qualidade de vida há mais de 16 anos, sempre valorizei essas ações no ambiente profissional. Acredito que a empresa é um lugar incrível para promover a saúde e o bem-estar, mas infelizmente, nos últimos tempos, percebo um descompasso entre a realidade, os interesses e a teoria.
As iniciativas que de fato mudam a vida das pessoas e trazem resultados mensuráveis foram deixadas de lado, em favor de ações “mais atrativas”, superficiais e menos eficientes. Em paralelo a tudo isso, percebemos uma certa miopia frente à insalubridade emocional de alguns ambientes trabalho, que não contribuem para melhorar os indicadores de saúde, muito pelo contrário.
A boa nova é que hoje, no meio de uma pandemia, mensuramos um número significativo de solicitações de programas voltados à saúde mental, emocional e saúde integral nas empresas. E não estou falando de ações voltadas à Covid-19, falo de ótimas inciativas, muito simples na realização e eficientes na prática.
A pandemia e o isolamento social trouxeram preocupações com imunidade que promovem constantes reflexões e autoavaliações e, por conta disso, hoje nos deparamos com uma excelente oportunidade para falar de qualidade de vida dentro das empresas outra vez.
A parte desafiadora é que temos um menu mais enxuto de opções e um novo universo a desbravar, diante das limitações físicas. Vamos precisar entender este novo caminho, dar as mãos, construir e aprender juntos.
Não existe uma receita e nem respostas prontas, a única certeza que temos é que boa parte das coisas que aprendemos sobre promoção da saúde corporativa será atualizada a partir de uma nova perspectiva e os programas desconectados da realidade não farão mais sentido.
Acredito que neste momento é importante refletir sobre alguns pontos, antes de partir para uma programação frenética de ações:
- 1- Quais as reais necessidades do grupo de funcionários?
- 2- Os programas e ações propostos são relevantes? Promovem reflexões para a mudança de comportamento ou são eventos divertidos, com apelo único de dar um tom mais moderno à empresa, mas sem força para impactar o ambiente de trabalho e a vida das pessoas?
- 3- Qual a real motivação por trás dessas ações? Tornar a empresa moderna e mais interessante aos olhos do mercado e funcionários? Se esta for a resposta, talvez você esteja no caminho errado.
- 4- Existe um objetivo definido? É muito importante estabelecer um rumo para não tornar o programa de qualidade de vida uma “sopa de letrinhas” indecifrável. É importante fixar um objetivo e se manter fiel a ele, a fim de buscar resultados mensuráveis.
- 5- As ações conversam com as práticas e rotinas do dia a dia? Por exemplo, se o assunto é alimentação saudável, o refeitório da empresa, os lanches servidos, os alimentos oferecidos pela organização estão alinhados com o objetivo que se espera alcançar?
- 6- Qual a origem dos indicadores que apontam a direção do programa? Impressões de um ou outro? Relatórios de utilização do plano de saúde? Indicadores do restaurante e da lanchonete da empresa? Taxa de adesão a iniciativas já implantadas? Não dá para iniciar um programa baseando-se na opinião ou interesse de poucas pessoas. O programa proposto precisa conversar com o grupo de funcionários.
- 7- A liderança da empresa apoia essas iniciativas? Se não existe apoio, talvez seja melhor pegar mais leve, porque os indicadores de mercado comprovam: sem apoio da liderança, os programas de saúde não decolam.
- 8- As ações são mensuráveis? Você consegue medir, analisar a evolução e ajustar a rota sempre que possível?
- 9- Existe uma verba definida? Apoio de patrocinadores? Por quanto tempo o programa se sustenta dessa forma?
- 10- As ações propostas estimulam a autorresponsabilidade e a maturidade dos funcionários nos cuidados preventivos com a saúde?
- 11- O plano de trabalho e de comunicação estão definidos? Entender a importância de cada fase e se comprometer com ela é meio caminho andado para o sucesso.
- 12- A agenda proposta estimula a participação de todos, os horários definidos são os mais indicados, o intervalo entre as ações é viável? Fuja da tentação de oferecer um menu muito rico. Muitas atividades não promovem o entendimento, o engajamento e a mudança de comportamento.
Penso que melhorar a saúde dentro das organizações passe, talvez, por uma análise corajosa das relações corporativas, do modelo de negócio x pessoas, do tipo de líder que a empresa deseja ter e formar, da relevância dos projetos voltados às pessoas e de quanto o ambiente interfere nos excessos e nos hábitos de saúde de cada um.
Sinceramente, desejo sucesso e me uno a vocês nessa empreitada, já torcendo para que a verdadeira transformação comece em nós.
Sobre a Autora:
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